Cerveja antirressaca? Ela existe, e temos os ingredientes

Publicado por Tv Minas em 16/01/2019 às 21h54

Fonte: EL PAÍS

Ela foi apresentada há alguns dias em várias cervejarias tradicionais de Amsterdã.

 

Há apenas três anos, nós, da imprensa, repercutíamos uma notícia que prometia mudar a história da gastronomia cervejeira. Aquele Messias que havíamos esperado por tanto tempo era revelado pelas mãos de um grupo de pesquisadores australianos que afirmava ter inventado a primeira cerveja “reconstituinte”. O Instituto Griffith de Saúde, da Austrália, abria esse caminho com a primeira cerveja isotônica, que simultaneamente causava e curava todos os males; uma cerveja que eliminava qualquer componente desidratante e adicionava uma forte dose de eletrólitos que permitiam num suspiro a recuperação de líquidos após uma sessão de exercícios. E, desde então, uma verdadeira procissão de marcas anunciaram ter uma cerveja isotônica infalível. A mais recente nos chega da Holanda – onde, mais do que cervejeiros, talvez falemos de alquimistas – e vai muito além: se propõe a curar a ressaca.

 

 

Helder: um privilégio para poucos

 

A cerveja antirressaca ainda é uma criação que está tateando o terreno. Seu nome, Helder, significa “brilhante” em holandês, um nome escolhido porque, segundo seu criador, é o estado em que se encontra seu cérebro depois de passar uma noite entornando esta milagrosa cerveja. Ainda não pensaram em engarrafá-la e lançá-la no mercado, já que está em fase de testes, mas o fato é que a ideia é poder comercializá-la no resto da Europa se o projeto vingar. A única forma de poder experimentá-la por enquanto é ir a uma cervejaria e ter a sorte de o estoque não ter acabado, já que sua produção é muito limitada. É preciso levar em conta que essas cervejarias estão situadas num dos lugares mais turísticos de Amsterdã, onde a principal pedida não é exatamente o chá com biscoitos.

 

Para ser um dos privilegiados, é necessário ficar atento a quando a cerveja está disponível no bar. No De Prael há jornadas de degustação da Helder e demais marcas da casa. A Helder pode ser encontrada em poucas ocasiões, basicamente em barril e eventualmente engarrafada, sem rótulo. Mas única e exclusivamente para tomar ali mesmo, então nem pense em tentar comprá-la pela Internet – você não irá encontrar. Aparentemente, pode-se beber até oito garrafas de 33cl e estar zerado no dia seguinte. E seu sabor é muito similar às pilsens, então – não vamos enganar ninguém – não há muita surpresa.

 

De um modo ou de outro, já temos uma invenção que semeou uma nova polêmica, contrapondo aqueles que consideram se tratar de algo revolucionário e os que argumentam que não passa de uma nova bobagem de um produtor de cerveja artesanal a fim de se promover. Seja como for, o mito e lenda viva da cerveja antirressaca continua dando o que falar.

 

 

Talvez a toxidade do álcool seja um mito

 

Não é preciso ser muito esperto nem consultar os astros para saber que uma das causas dessa hecatombe na cabeça após uma noite de cerveja, muita cerveja, não é tanto o álcool, e sim o abuso dele. Porque a ressaca não deixa de ser uma desidratação como manda o figurino, e a fórmula é bem simples: quanto mais bebo, mais me desidrato e mais invocarei os infernos no dia seguinte, desejando uma decapitação absoluta para acabar com todo o mal que tenho dentro de mim. Na verdade, o Instituto Nacional de Toxicologia da Espanha deixa bem claro que “os remédios para curar milagrosamente a ressaca são um mito”. Mas o que aconteceria se não precisássemos nos curar, porque a cerveja não deixa nada de ressaca? E agora, o que fazemos?

 

Partamos do princípio de que a solução para não ter ressaca é evitar a desidratação. Se a cerveja de Gesink for fabricada com água salgada do mar, aqui teríamos que entender que esse mesmo efeito isotônico poderia ser propiciado por marcas espanholas como a Er Boquerón e a Mustache, que têm suas variedades com água do mar, e supondo que efetivamente o resultado fosse o desejado. Depois, temos que interpretar que os efeitos supostamente depurativos do gengibre e da casca de salgueiro poderiam fazer o resto. Em relação à vitamina B12, existe uma enorme quantidade de lendas urbanas sobre seus benefícios contra a ressaca; fosse assim, provavelmente as farmácias de um país de bebedores como a Espanha estariam se defendendo todos os finais de semana de um apocalipse de zumbis ressacados. E, aparentemente, continua havendo estoque, de complexo vitamínicos; aí ficamos sem saber muito bem o que pensar. Se a mistura desses quatro ingredientes é a base de um futuro cervejeiro sem ressaca, o que esse setor está esperando para patentear tão maravilhosa invenção? Talvez porque seja uma história um tanto suspeita.

 

Por outro lado, é possível que alguém por aí tenha esquecido que o álcool, mesmo em quantidades não muito elevadas, é um tóxico que o corpo humano tem enorme dificuldade em expelir. Está claro que beber álcool não precisa ser o equivalente a entoar um salmo satânico; não o demonizemos, e atire a primeira pedra quem estiver livre de etanol. O que temos que levar em conta é que o consumo descontrolado vai causar uma ressaca que milagre nenhum irá sanar, por mais que a cerveja tenha esse efeito reconstituinte nas suas tripas. É possível que a melhor forma de desfrutar de uma manhã tranquila seja com uma noitada com as cervejas de sempre, aquelas que só causam ressaca se você quiser. O resto deixemos ao paladar, por favor.

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