Moradores relatam medo com avanço da violência em cidades pequenas

Publicado por Tv Minas em 16/01/2019 às 21h54

Fonte: G1

Matéria extraída do G1

 

Comerciantes e motoristas de caminhão também convivem com ação de criminosos nas estradas.

 

Para quem vive em cidades pequenas do Sul de Minas, de menos de 20 mil habitantes, a violência não é assunto comum. A ideia de quem nasceu ou decidiu se mudar para uma cidade menor é de um lugar pacato e uma vida tranquila. Quando a insegurança atinge famílias inteiras a sensação é de que não existe mais lugar sem criminalidade. É o mesmo sentimento de caminhoneiros e comerciantes às margens das rodovias. O asfalto trouxe o avanços, mas também abriu o caminho para atuação de quadrilhas.

 

O G1 conversou com policiais e demais forças de segurança para traçar a Rota do Crime - como as cidades pequenas viraram alvos de ações criminosas com o desenvolvimento de rodovias da região. Estradas como a MG-050, na ligação entre o Sul de Minas com o estado de São Paulo, além da BR-146, recentemente pavimentada entre Passos e Bom Jesus da Penha, ganham destaque com a movimentação de grupos criminosos. Outro rodovia importante é a Fernão Dias, que registra ocorrências de tráficos de drogas.

 

 

Moradores relatam medo com avanço do crimes em cidades do Sul de Minas.

 

 

O G1 também ouviu moradores, motoristas e comerciantes sobre o avanço do crime nas cidades do Sul de Minas. Os relatos são de pessoas que já viram de perto os casos ou convivem com a insegurança.

 

“Sensação de terror”, Fábio dos Reis Torres, comerciante.

 

 

Marcas do crime

 

Os dias 5 e 6 de abril de 2018 ficaram marcados por tentativas de ataques a agências bancárias e ações ousadas de criminosos em cidades pequenas do Sul de Minas. A região, que já tem um histórico de crimes em bancos, teve dois dias de ações simultâneas em várias cidades. As ações mais efetivas foram em Areado, Cabo Verde e Jacuí, com cofres arrombados e disparos de tiros.

 

Em Bom Jesus da Penha, a tentativa de explosão de dois bancos na área central, durante a madrugada, marcou a vida de moradores.

 

“A hora que eu saí na varanda, deu pra ver dois [criminosos] chegando aqui no banco. Vi e voltei pra dentro correndo. Porque aí eles começaram a atirar no poste. Vi as armas, todos armados. Corri pra dentro, chamei meu esposo, disse que estavam assaltando o banco”.

 

Foi de dentro da varanda cercada de vidro, em muros altos, que a dona de casa Meire Celina Silva Maia viu toda a ação em Bom Jesus da Penha.

 

“Foram 20 minutos de tiroteio. Não sei porque eles estavam atirando. Eles gritavam muito, gritavam o tempo inteiro. E falam assim ‘não sai não, fica aí dentro’”.

 

Um dos tiros estourou o vidro da frente da casa de Meire e a bala parou em uma das colunas. Além da marca, uma das balas de calibre 9 milímetros ficou no chão, e foi recolhida pela polícia na manhã seguinte.

 

“Por mais que a gente ache que está seguro, não está. Você vê a minha casa, eu achava que estava segura. Eu vi que somos vulneráveis. Não tem muita segurança em lugar nenhum, mesmo aqui que é pequeno. A gente não tem o que fazer. O que você sente é que não pode fazer nada, nada está ao seu alcance. Porque eles [os criminosos] estão muito acima. A gente se sente muito inútil”.

 

 

Agências em cidades pequenas do Sul de MG são alvos de criminosos.

 

 

O comerciante Fábio dos Reis Torres tem uma empresa no mesmo local onde mora em Bom Jesus. O endereço é a 100 metros da agência do Sicoob e a 200 do Banco do Brasil, onde a quadrilha deixou um explosivo que não conseguiu acionar.

 

“Foi bem próximo lá de mim. A reação foi de medo, insegurança. Difícil né? Eu estava em casa ouvi os tiros, gritos. Aí eles atiraram nas vidraças do banco, teve vidros estilhaçando. Ouviu muita coisa. Moro com a minha família – eu, minha esposa e filhos. Sensação de terror, não tenho nem palavras para descrever”.

 

 

Bom Jesus da Penha foi alvo de ataques a bancos em 2018.

 

 

Quem é dono ou trabalha em pontos às margens das rodovias também convive com o medo de assalto e ações de criminosos. O histórico de assalto a postos de combustíveis fez um empresário blindar a área de caixas.

 

Mesmo assim, os assaltos continuam, apesar de serem menos frequentes.

 

“Já tivemos bastante susto aqui já. Vieram dois homens armados, com revólver, faca, levou dois frentistas aqui, levou no caixa que já era blindado. E pediu para o caixa levar o dinheiro. Senão iria atirar nos frentistas aqui fora”, contou o funcionário Bruno Ângelo Lemes Liranda, de um posto às margens da Fernão Dias, em Três Corações.

 

 

Funcionário de posto de combustíveis fala sobre assaltos na Fernão Dias em MG.

 

 

A rotina nas estradas

 

Outro caminhoneiro, Joel do Nascimento, conta sobre um assalto sofrido em rodovias paulistas e do medo de transitar nas estradas da região. “Saí do posto e o cara acompanhou eu, era de madrugada. Ele me fechou logo em seguida e parou. Apontou a arma, mas não fez nada mais grave”.

 

Há mais de 20 anos viajando entre Campinas e Três Corações, de uma a duas vezes por semana, o caminhoneiro Genilson de Abreu Miranda sempre ouve relatos de colegas que são assaltados. “Eu parava, dormia tranquilo. Hoje não, não tem mais segurança. Pelos fatos que têm acontecido, dá medo”, relata.

 

“O que está faltando na Fernão Dias é segurança. Dá medo de rodar aqui hoje. Se você parar no posto pra dormir aí agora, roubam farol do caminhão, roubam pneu. Eu não paro mais aqui na rodovia. Minha viagem dá 300 quilômetros. Eu vou e volto sem parar, com medo”.

 

 

Caminhoneiros falam de medo ao estacionar em paradas à noite na Fernão Dias.

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