Como a falta de sono afeta seu cérebro e sua personalidade

Publicado por Tv Minas em 16/01/2019 às 21h54

Fonte: EXAME

O tempo que passamos dormindo é um investimento essencial para sermos mais inteligentes, tomarmos decisões melhores e para que tenhamos uma vida mais feliz.

 

Em 1959, Peter Tripp, um popular DJ de Nova York, prometeu ficar acordado por 200 horas por caridade enquanto continuava como âncora em seu programa de rádio.

 

Estudos sobre privação de sono eram raros na época e ninguém sabia o que esperar. Isso fez do evento algo grandioso, não somente por conta dos milhões de ouvintes de Tripp, mas também pela comunidade científica.

 

Os impactos da maratona na mente de Tripp foram mais dramáticos do que qualquer um poderia esperar. A personalidade dele era normalmente descrita como alegre e para cima, mas mudou significativamente no decorrer das horas. No terceiro dia, ele estava muito irritável, xingando e insultando até seus amigos mais próximos. Ao caminhar em direção ao fim de sua maratona, ele começou a alucinar e exibir comportamentos paranoicos.

 

Apesar das preocupações dos médicos que monitoravam Tripp (e da ajuda de estimulantes), ele persistiu e finalmente foi para a cama após 201 horas seguidas sem dormir.

 

Laboratórios modernos replicaram alguns dos comportamentos vistos em Tripp como consequência da falta da perda de sono. Privação de horas de sono ou períodos prolongados de restrição de sono resultam em aumento de irritabilidade, mau humor e sentimentos de depressão, raiva e ansiedade. Alguns argumentam que a perda de sono leva a reações emocionais intensificadas.

 

 

Cansado e emocional

 

De forma similar a Tripp, que destratou seu amigo por conta de um minúsculo inconveniente, a privação de sono em participantes de um estudo mostrou aumento de estresse e raiva entre indivíduos que não haviam dormido quando precisaram completar um simples teste cognitivo.

 

Imagens cerebrais revelam por que privação de sono pode levar à irritação. A amígdala, uma área no nosso cérebro, é nosso centro de controle emocional. Quando participantes com privação de sono são expostos a imagens com conteúdo negativo, os níveis de atividade da amígdala foram 60% mais altos do que os níveis de pessoas descansadas.

 

Pesquisadores também analisaram quão diferentemente conectadas as áreas do cérebro desses participantes estavam. Eles descobriram que a privação de sono tinha destruído a conexão entre amígdala e o córtex pré-frontal.

 

Essa foi uma descoberta crítica já que o córtex pré-frontal regula o funcionamento da amígdala. A privação de sono parece ser a causa pela qual a amígdala reage negativamente porque se torna desconectada de áreas cerebrais que normalmente regulam seu funcionamento.

 

 

Acordadão em Las Vegas

 

Donos de cassinos sabem há anos que apostadores cansados tomam decisões arriscadas. Luzes claras, barulho e a falta de janelas fazem com que você não note a passagem do tempo dentro de um cassino.

 

Em 2011, pesquisadores da Universidade Duke pediram a participantes de um experimento que aumentassem suas apostas. Eles podiam escolher fazer isso diminuindo a quantidade possível do maior ganho, diminuindo o tamanho de uma possível perda ou aumentando a probabilidade de vencer.

 

Quando participantes foram privados de sono por apenas uma noite, eles começaram a tomar menos decisões que evitassem perdas e mais decisões que maximizavam ganhos potenciais. Em outras palavras, a privação de sono tornou suas apostas mais arriscadas e mais otimistas. A mudança na aceitação do risco era acompanhada por mudanças na atividade cerebral nas áreas que analisam resultados positivos e negativos.

 

 

Dormindo para aprender

 

Outra área do cérebro que sofre dramaticamente por conta da falta de sono é o hipocampo. Essa região é crítica para armazenar novas memórias. Quando pessoas são privadas de sono por uma noite, a habilidade de memorizar novas informações cai significativamente.

 

Um estudo demonstrou que a privação de sono causa diminuição do tamanho do hipocampo. Ao memorizar uma série de fotos, participantes que não haviam dormido mostraram menor ativação do hipocampo se comparados com outros que estavam descansados. Essa deficiência do hipocampo poderia ser causada pela redução de habilidade de escrever novas informações causada pela falta de sono.

 

O hipocampo pode precisar de sono para mover novas informações para que sejam armazenadas em outras áreas do cérebro. Nesse caso, a falta de sono pode encher o “espaço” disponível no hipocampo para armazenar informações, impedindo que novas memórias sejam guardadas.

 

 

Lições da maratona sem dormir

 

A história de Tripp tem um final infeliz. Logo após sua maratona sem dormir, seu casamento chegou ao fim e ele perdeu seu trabalho e sua carreira no rádio. Em 1964, seu recorde foi quebrado por Randy Gardner, um estudante de San Diego, que ficou acordado por 264 horas.

 

Os problemas posteriores de Tripp, no entanto, dificilmente têm conexão com sua falta de sono. Gardner e outros que posteriormente tentaram quebrar seu recorde não sofreram danos de longo prazo. Apesar disso, ficam lições da experiência de Tripp e das últimas descobertas na ciência do sono.

 

Muitas pessoas não estão dormindo o suficiente já que sacrificam seu tempo para trabalhar, especialmente em dispositivos eletrônicos que emitem luz azul. Essa iluminação faz com que cair no sono seja mais difícil, diminuindo a quantidade de tempo que dormimos e também a qualidade do sono.

 

Precisamos redescobrir o valor do sono e apreciar os benefícios que ele traz para o cérebro. O tempo que passamos dormindo é um investimento essencial para sermos mais inteligentes, tomarmos decisões melhores e para que tenhamos uma vida mais feliz. Então vá dormir um pouquinho.

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