BH tem o dobro de usuários de maconha que o resto do país

Publicado por Tv Minas em 16/01/2019 às 21h54

Fonte: O Tempo

Pesquisa mostra que 11,7% da população de BH já usou a erva, índice bem superior à média nacional, de 6,8%.

 

O desenho estilizado de uma folha de maconha no logotipo da casa não deixa dúvidas: a Growers Espaço de Cultura é um local para o público que consome a erva. Aberto no último dia 21, com show do cantor BNegão, o estabelecimento é uma “headshop” – como são chamadas as lojas que vendem acessórios para o consumo de maconha, como papel de seda, cachimbos e trituradores. “Depois de conhecer como está sendo a experiência do Uruguai com a legalização, decidimos abrir a loja, porque percebemos uma oportunidade de negócios”, afirmou Alcino Santos Neto, 22, um dos sócios. “Não tivemos problemas com os vizinhos, já que aqui não é um fumódromo. O público tem entendido que esse é um lugar de encontro e de cultura, não de consumir – até porque existe uma lei antifumo, que respeitamos”, disse outro sócio, Paulo Henrique Martins, 23.

 

A iniciativa não está só. Além da Growers, a cidade também abriga pelo menos mais duas headshops. A abertura da casa e esse novo tipo de comércio é uma prova dos resultados da pesquisa Conhecer e Cuidar, desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte. Segundo o estudo, divulgado no fim do ano passado, 11,7% da população da capital já usou a erva em algum momento da vida. O índice é quase o dobro da média nacional, de 6,8%. O número de usuários regulares também é alto na comparação com o número nacional. Conforme a pesquisa, 4,2% das pessoas usaram a erva em um período de 12 meses, contra 2,6% do resto do país.

 

Para os usuários entrevistados por O TEMPO, o alto número de consumidores de maconha na capital se justifica como uma reação ao tradicionalismo de Minas Gerais. Eles também rechaçam o estereótipo de “doidões” e garantem que o uso da droga não interfere na vida profissional nem nas responsabilidades do dia a dia.

 

Na opinião do proprietário da headshop Lojas Jamaicanas, Victor Mujica, 34, a proibição acaba atraindo os usuários. “A pessoa começa a fumar maconha por rebeldia. Belo Horizonte é uma cidade muito moralista, conservadora e religiosa, e esse uso pode ser uma espécie de reação”, afirmou. Ele também reforçou que o uso da droga não interfere em outros aspectos da vida dele. “Jogo futebol, ando de bicicleta, sou formado em administração, tenho família”, disse.

 

Usuário regular, o chef de cozinha Vítor Tavares Barbosa, 22, também foge do estereótipo e afirma que a droga não o atrapalha em nada e que é contra definir uma pessoa apenas pelo uso. “Não acredito em ‘sou’, mas em ‘estou’. Posso estar fumando nessa semana e logo depois não estar mais. O importante é cada um descobrir e fazer suas próprias escolhas”, ponderou. Para ele, o consumo da maconha pode ser comparado ao do álcool. “Às vezes, bebo sozinho, quando estou cozinhando ou quando chego em casa cansado. O mesmo acontece com a maconha, é uma coisa que tem seu momento”, avaliou.

 

Marcha. Outro dado que comprova a pesquisa é a militância. No próximo dia 27, a capital receberá mais uma edição da Marcha da Maconha, movimento que pede a legalização da erva e que tem a expectativa de receber pelo menos 15 mil pessoas na praça da Estação. No ano passado, a edição mineira ultrapassou a do Rio de Janeiro e se firmou como a segunda maior do país, atrás apenas de São Paulo.

 

Meios. A maconha é consumida principalmente fumada, normalmente por meio de cigarros artesanais. A droga também pode ser vaporizada ou adicionada a alimentos através de infusões.

 

 

Álcool desinibe e incentiva consumo

 

As duas regiões que mais consomem maconha na capital, a Centro-Sul e a Leste, também são famosas por sua vida noturna agitada. Segundo o coordenador do estudo Conhecer e Cuidar, Frederico Garcia, há uma relação entre o álcool e a maconha. “Por ser desinibidora, a bebida acaba sendo um incentivo ao uso de drogas”, afirmou. Ele, porém, avalia que os ambientes não favorecem o uso da maconha. “É um consumo que não é público, pois causa um desconforto em quem está em volta, por conta da fumaça e do cheiro”, afirmou.

 

Para o diretor executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG), Lucas Pêgo, porém, a associação entre a droga e a tradicional cervejinha na mesa do boteco não pode ser feita diretamente.

 

“Na verdade, é o contrário. A presença do bar traz mais movimento de pessoas, e os usuários costumam preferir locais mais sossegados para fumar maconha, onde não podem ser importunados, já que o consumo ainda é uma coisa velada”, avaliou Pêgo.

 

“Um dos locais mais notórios do consumo de drogas em Belo Horizonte, que é a praça do Papa, não tem um bar sequer; tem é a falta de um movimento que possa constranger esse consumo”, disse.

 

Outro motivo apontado, segundo Pêgo, é a atual legislação sobre o consumo de fumo em locais fechados, que é bastante restritiva. “A lei antifumo é muito rigorosa e não faz distinção do que a pessoa fuma, se é cigarro, maconha, cachimbo. Em lugar fechado, não pode”, explicou.

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