Mulheres de São Paulo se "armam" contra abusadores

Publicado por Tv Minas em 16/01/2019 às 21h54

Fonte: O Tempo

Após notícias de homens presos por ejacular em locais públicos, busca por segurança cresceu.

 

Samanta Aziz, 28, não costuma postar muito no Instagram. Mas postou quatro stories no último dia 29. A coordenadora de marketing digital queria mostrar aos amigos o aparelho de choque com cara de iPhone que comprou para se defender de ataques de homens que se masturbam em lugares públicos, na capital paulista.

 

Quatro dias antes, três homens foram presos em São Paulo por terem ejaculado em mulheres. Em um dos casos, o suspeito foi solto após determinação de um juiz. “Decidi comprar pela revolta, pelo desânimo e pela sensação de que nada, nem a lei, é capaz de me defender do assédio do dia a dia”, disse.

 

O uso desse tipo de aparelho é proibido no país – embora possa ser justificável em casos de legítima defesa. “Acho que, se uma mulher usar esse tipo de equipamento em legítima defesa, é plausível considerar que ela agiu para se proteger. Seria ridículo interpretar de uma forma diferente”, diz o criminalista Roberto Podvalo, que defende uma reavaliação do tema.

 

Samanta, por exemplo, já teria usado o aparelho, que custou R$ 159 e foi comprado pela internet, se tivesse o dispositivo na época em que foi abusada por um rapaz dentro do trem, em 2008.

 

“Depois dessa onda de violência, posso garantir que houve aumento de pelo menos 15% na procura e, sim, vinculado à defesa da mulher. E algumas vezes são os homens que compram para as mulheres”, afirmou Anderson Costa, gerente da loja on-line Falcon Armas, com sede em Curitiba.

 

Quem comprou o aparelho de choque da jornalista Priscila Souza, 28, não foi ela, mas o irmão. “Ele veio com a caixinha de um iPhone e contou que era um aparelho de choque. Disse que, como a gente tinha vendido o carro e eu estava andando muito com motorista de aplicativo, seria importante andar com aquilo. Não acho bacana ter. Mas é uma segurança a mais”, disse.

 

Com a onda de abusadores, a estudante Tassia Fernandes, 27, comprou o instrumento de choque e também o spray de pimenta. Ela conta que a insegurança é tanta que volta e meia deixa o equipamento em algum lugar de mais fácil acesso. “Sempre que pego um metrô ou um ônibus cheio, já tiro o spray da bolsa. Fico com ele na mão mesmo”, afirmou.
Projeto de lei pode permitir os aparelhos

 

A Lei 13.060, de 22 de dezembro de 2014, permite que apenas agentes de segurança pública e privada utilizem “instrumentos de menor potencial ofensivo” – categoria do aparelho de choque e do spray de pimenta. Mas existe no Congresso um projeto de lei (7785/2014) que propõe a flexibilização do comércio e uso do spray de pimenta.

 

“Há décadas ele é utilizado por forças de segurança de todo o mundo, e, em muitos países, é igualmente permitido a civis, especialmente mulheres, com a finalidade de autodefesa em casos de ataques”, diz a proposta do deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS). O texto está parado na Câmara dos Deputados desde 2015.

 

 

Tassia Fernandes, 27, mostra o dispositivo em forma de lanterna que provoca choques.

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