Menina de 2 anos chega morta em UPA e PC investiga; mãe e padrasto foram presos

Publicado por Tv Minas em 28/01/2023 às 15h07

Fonte: G1

Criança foi levada ao posto de saúde 30 vezes antes de ser morta por suspeita de estupro e espancamento pelo padrasto.

Uma menina, de 2 anos chegou morta à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bairro Coronel Antonino, na noite desta quinta-feira (26), em Campo Grande. A polícia investiga a suspeita de espancamento por parte do padrasto da menina e possível estupro. De acordo com o delegado do caso, Pedro Cunha, a criança tinha muitos hematomas pelo corpo.

Mãe e padrasto foram presos em flagrante pelo crime de homicídio qualificado por motivo fútil e devem passar por audiência de custódia. Eles foram levados para a Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac) Centro.

Segundo a avó da menina, uma professora, de 48 anos, Sophia de Jesus Ocampo, de dois anos, estava passando mal e vomitando, desde o início da manhã. A criança estava sendo cuidada pela mãe, uma vendedora, de 24 anos, e chegou a ter uma melhora no início da tarde, mas piorou por volta das 17h.

Ainda segundo a avó, a neta tinha hematoma nas costas, na boca, teve sangramento pelo nariz e apresentava abdômen inchado, indicando uma possível hemorragia interna.

No entanto, segundo informações da polícia, a criança já estava morta havia cerca de quatro horas "com sinais de rigidez cadavérica".

Ao g1, o delegado Pedro Cunha, responsável pela ocorrência, informou que estão apurando as circunstâncias da morte, ouvindo testemunhas e a equipe médica.

O caso deve ser investigado pela Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente).

Menina apresentava diversos ferimentos pelo corpo — Foto: Arquivo pessoal/ ReproduçãoMenina apresentava diversos ferimentos pelo corpo.

 

Menina foi levada ao posto de saúde 30 vezes antes de ser morta

O prontuário médico da menina aponta que a vítima já havia sido atendida 30 vezes em unidades de saúde da capital, uma delas por fraturar a tíbia. A informação do prontuário foi repassada ao g1 pela Polícia Civil.

 

Histórico

Ainda de acordo com o delegado do caso, a menina tinha uma longa ficha médica na Unidade de Saúde. Além de dois boletins de ocorrência por maus-tratos, registrados contra o padrasto da criança.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) informou que a menina possui diversos atendimentos em uma única ida à unidade de saúde, como acolhimento, triagem, consulta médica e medicação.

A Sesau afirma que todos os atendimentos foram prestados conforme era de competência da unidade de saúde.

Pai de Sophia à esquerda e o namorado dele, à direita. — Foto: Reprodução/TVMorenaPai de Sophia à esquerda e o namorado dele, à direita.

 

Pedido de justiça

Jean Carlos Ocampo, pai de Sophia, já tinha pedido a guarda da menina antes do crime. De acordo com a Polícia Civil, o pai da criança realizou duas denúncias de maus-tratos em 2022 e ambos os inquéritos policiais foram concluídos e encaminhados ao Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS).

“O pai da criança já tinha registrado boletim de ocorrência aqui na DEPCA, dois boletins de ocorrência de maus-tratos. Em novembro e em março do ano passado, ambos já haviam sido concluídos, e encaminhados ao Poder Judiciário”, afirma a delegada Anne Karine Trevisan.

Igor de Andrade, companheiro do pai da menina, relatou ao g1 que eles tentaram conseguir a guarda da criança, mas um dos impedimentos seria a homofobia por parte da mãe da vítima.

“Ela dizia que não deixaria a filha com dois homens”, contou.

Igor ainda relatou que as visitas à menina só foram possíveis depois que o pai da criança entrou na Justiça. Ainda assim, segundo Igor, o pai só via a filha do jeito que a mãe determinava.

"Passamos por vários lugares para entrar com pedido de guarda da neném. A única coisa que a gente pedia era pra tirar a menina de lá. A mulher [mãe] chegou a ser presa no ano passado por maus-tratos aos animais. Com isso, fomos atrás novamente para mostrar a situação insalubre que a neném vivia, e aí, vinha a mesma resposta: ‘tem que aguardar’", disse Igor.

O g1 procurou o MPMS para saber o andamento do processo. Em nota, o Ministério Público Estadual informou que um dos processos foi arquivado após a avó, a mãe e o pai da criança serem ouvidos. A outra ocorrência não chegou ao órgão. Confira a nota na íntegra:

"A Assessoria de Comunicação do MPMS, em contato com o Promotor de Justiça que atua no Juizado Especial, foi informada que referente ao caso da criança Sophie de Jesus Ocampo, foi registrado, em janeiro de 2022, um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por maus tratos, na 10ª Vara do Juizado Especial Central.

Na época, foram ouvidas pela Polícia Civil: a avó e a mãe da criança que relataram não ter havido maus-tratos com a criança e que não havia interesse no procedimento criminal. Por sua vez, o comunicante da ocorrência, o pai, compareceu na audiência preliminar designada e informou perante a autoridade policial que os maus tratos não voltaram a repetir.

Em razão da atipicidade material do fato o Ministério Público, requereu o arquivamento do feito. Por consequência, a Juíza Eliane de Freitas Vicente acolheu a manifestação do representante do

Ministério Público e determinou o arquivamento do procedimento, ressalvada a possibilidade de desarquivamento, nos termos do que dispõe o artigo 18 do CPP.

Em dezembro de 2022, uma nova ocorrência foi registrada junto à 11ª Vara do Juizado Especial e não foi distribuída ao MPMS."

Dois boletins de ocorrência chegaram a ser registrados por maus-tratos, devido ao estado em que a menina chegava à casa do pai. Em uma das ocasiões, a criança chegou com a perna quebrada, e o pai foi informado que ela tinha caído e se machucado.

Ainda conforme Igor, uma audiência sobre os casos foi marcada, mas a mãe não compareceu.

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