Publicado por Tv Minas em 27/01/2023 às 12h28
Uma caminhonete ficou “derretida” por dentro após ser atingida por um raio na BR-020, entre as cidades de Posse e Simolândia, no nordeste de Goiás. Imagens impressionantes mostram o interior do carro destruído depois de um curto-circuito provocado pela descarga elétrica. O motorista não se feriu.
O caso aconteceu na tarde da última sexta-feira, 20. O mecânico que foi chamado para socorrer o motorista contou que o raio atingiu a antena da caminhonete, com isso, acabou passando para toda a parte elétrica do veículo.
“É um caso raro, porém todos os carros que têm antena externa correm esse risco. O raio atingiu a antena e passou para o sistema elétrico do carro, criou um curto-circuito, incendiou e derreteu o painel”, explicou o mecânico Josimar, também conhecido em Posse como “Nego Bill”.
As imagens ainda mostram que o para-brisa do carro quebrou com a força da descarga elétrica. O mecânico ainda contou que o motorista, que não quis se identificar, saiu do carro de imediato e não teve nenhum ferimento.
“Ele pensou rápido e saiu rapidamente do carro, fechando as portas para que o fogo não se espalhasse”, explicou o mecânico.
Físicos explicam por que motorista não levou choque
Físicos explicam sobre o princípio da Gaiola de Faraday, que “protegeu” o motorista de ter recebido um choque, e porque os veículos são considerados locais seguros durante tempestades.
Gaiola de Faraday
Os professores de física George Fontenelle e Welder Jorge, de Goiânia, explicam que não são os pneus do carro que blindam a descarga elétrica, mas, sim, o princípio da Gaiola de Faraday, formado pela superfície metálica completamente fechada.
“A questão X é o campo elétrico. As cargas que vêm do raio se posicionam de uma forma que toda a carga elétrica que atinge um recipiente metálico fechado será mandada para a parte externa, de tal forma que não vai eletrocutar uma pessoa”, explica Fontenelle.
“As cargas se concentram só na superfície, elas não entram no sistema [carro] mesmo que tenha matéria, como os bancos, etc. A pessoa que está dentro do carro fica isolada”, conta Welder.
Por que o interior da caminhonete derreteu?
Os físicos explicam que o interior da caminhonete ficou derretido por causa da alta temperatura dos raios, o que provocou o curto-circuito em toda a parte elétrica do veículo.
“No caso da caminhonete, as imagens mostram que o raio superaqueceu e fez derreter o interior. Isso porque a temperatura de um raio desse é altíssima, supera 2 mil graus Celsius”, pontua Fontenelle.
“Caso o raio tenha atingido direto antena, foi pelo 'Princípio das Pontas', que concentra e atrai as cargas elétricas das nuvens. Como a descarga de um raio é alta demais, isso provocou o curto-circuito na superfície. Os fusíveis, a estrutura não aguenta. Os fios superaquecem e provoca o incêndio”, ressalta o professor Welder.
Lugar seguro
Ainda segundo os físicos, a estrutura de um carro funciona de uma forma parecida com um para-raios, estando os passageiros seguros, caso todas as portas estejam completamente fechadas.
“Não existe nenhuma possibilidade de cair uma descarga elétrica em um carro e uma pessoa dentro do carro tomar um choque. Ou seja, em uma tempestade, o lugar seguro é um carro. Em Goiânia já aconteceu de um fio de alta tensão cair sobre um carro e ninguém se ferir”, pontua o professor Welder.
“A priori, até em pequenas aberturas do carro, como a janela aberta, por exemplo, não tem o risco de o raio entrar, apenas se essa a abertura aumentar e afetar o campo elétrico”, explica.
Gaiola de Faraday: O nome do princípio se dá a partir de um experimento de blindagem eletrostática feita pelo físico e químico britânico Michael Faraday, em 1836.
Uma cena do filme 'O Aprendiz de Feiticeiro', exemplifica o experimento e mostra duas pessoas em uma espécie de gaiola metálica atingida por raios, mas sem a capacidade de provocar o choque elétrico nelas (veja abaixo).
Raios
O gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas do Estado de Goiás (Cimehgo), André Amorim, explica que os raios são descargas elétricas de grande intensidade que ocorrem na atmosfera, entre regiões eletricamente carregadas, e pode dar-se tanto no interior de uma nuvem, entre nuvens ou entre uma nuvem e o solo.
"O raio atingiu o carro e não antena do som, até porque o raio tem uma trajetória sinuosa, ele passa pelo carro e se dissipa no chão, mas, ao passar pelo carro, ele pode sim danificar partes eletrônicas", explica André.
Ainda de acordo com o gerente do Cimehgo, o que salvou a vida do motorista foi um fenômeno chamado "Princípio da Gaiola Faraday", "onde não são os pneus que fazem o isolamento, mas a estrutura do veículo que protege o passageiro, que não recebe o choque", finaliza.
Assista ao vídeo: