PMs dão comida na boca de homem que não conseguia se alimentar, em Minas Gerais

Publicado por Tv Minas em 27/03/2021 às 16h27

“A função da Polícia Militar vai muito além do que a maioria da sociedade enxerga", disse o soldado Weliton .

Nesta semana, uma foto chamou a atenção nas redes sociais. A imagem mostra dois policiais, que fazem o curso de formação de soldados, em Ipatinga (MG), alimentando um morador em situação de rua. Eles estavam no Centro da cidade, auxiliando no reforço da fiscalização da onda roxa — a medida mais restritiva do programa implantado pelo Estado de Minas Gerais, para combater o novo coronavírus.

Eles estão por aí nas praças, nos cruzamentos, no nosso dia a dia e tem gente que prefere não os ver. Em Ipatinga, são quase 250 pessoas em situação de rua, e outras 300 migrantes, que vêm e vão.

A estudante Amanda Carolina foi quem fez as fotos que circularam nas redes sociais. Ela ia para o estágio, quando viu a movimentação de pessoas e resolveu ajudar. Ela começou a conversar com o homem deitado no canteiro da praça e deu a ele uma maçã que tinha na bolsa. Em seguida, dois policiais se aproximaram.

“Ele falou que estava com fome, então, imediatamente ele [um dos policiais] começou a alimentar o senhor. Na hora que eu vi aquilo, eu falei assim: ‘eu nunca vi isso aqui na minha vida’”, contou.

Um dos policiais contou que o homem, que é deficiente físico, estava com fome e passando mal.

“Ele nos relatou que não estava simplesmente só passando mal, ele estava com muita fome. Ele tem uma certa deficiência e não consegue se locomover sozinho. A princípio, pelas perguntas que fizemos para ele, ele chegou aqui rastejando”, contou o soldado Diego Messias Leal.

O outro policial disse que se sentiu comovido ao ouvir as dificuldades do homem e logo resolveu ajudar.

Polícia Militar em IpatingaDepois de alimentá-lo, policiais acionaram uma ambulância para transportar o homem até uma unidade de saúde em Ipatinga, no Vale do Aço.

“O que surpreendeu a gente foi quando ele nos comoveu, dizendo que ele não conseguia se alimentar sozinho. Aí tivemos a iniciativa de abrir a marmita e sanar a dificuldade dele naquele momento”, disse o soldado Weliton de Caldas Rodrigues.

“No momento que a gente estava alimentando ele, ele estava comendo de maneira rápida. Então, falamos ‘pode comer tranquilo, tem tempo’. Nesse momento, a gente fez o acionamento da ambulância e ele foi e começou a chorar. Então, eu perguntei ‘por que o senhor está chorando’? Então, ele falou que estava com fome, mas havia dois dias que ele não se alimentava de maneira alguma”, completou Diego.

As fotos viralizaram na internet, e um gesto tão básico quebrou o gelo da falta de empatia.

“Aqueles policiais, eles não importaram com a farda que eles estavam carregando, pelo contrário, eles fizeram jus a ela. Eles demonstraram que realmente eles estão aqui para servir a sociedade, independente de quem seja”, parabenizou Amanda.

“A função da Polícia Militar vai muito além do que a maioria da sociedade enxerga, que é trazer essa qualidade de vida para o cidadão, para toda a sociedade. É uma sensação de dever cumprido, não só como policial militar, mas como um ser humano”, falou Weliton.

Após perceber a proporção que a atitude em ajudar o morador em situação de rua tomou, os policiais se surpreenderam com o resultado.

“A gente não imaginava essa repercussão toda. No momento, só agimos com o instinto de ser humano e em prol da ajuda do senhor Gesser. A gente estava fazendo nosso serviço como policial mesmo, mas eu acredito que qualquer um poderia estar fazendo isso”, afirmou Diego.

Gesser Oliveira nasceu em 1985 e, até essa quinta-feira (25), estava na UPA da cidade em uma internação social. Ele contou aos militares que morou em Belo Horizonte no último mês e que estava sendo explorado nas ruas e que foi até agredido. Ele disse que conseguiu algum dinheiro e chegou em Ipatinga na quarta-feira (24), com R$ 15 no bolso. Devido às dificuldades de se locomover, ele foi deixado próximo ao canteiro da Praça 1º de Maio, no Centro de Ipatinga, onde foi encontrado.

“A pergunta reflexiva para todos nós é: ‘amanhã, quando esse senhor sair do hospital, quando ele receber alta, para onde ele vai? Para as ruas?’. Nós precisamos ter um olhar crítico com relação a tudo isso. Uma sociedade melhor, ela é feita de cobrança do estado, do poder público, com relação a todas essas questões. Nós não podemos apenas nos tornar admiradores de boas ações isoladas, nós precisamos ser veículo de cobrança e de mudança social”, alertou o doutor em sociolinguística, João Xavier.

“Às vezes a pessoa até dá uma esmola para se livrar da pessoa, mas ela talvez nem esteja querendo a esmola ou comida. Às vezes ela quer um bom dia, ela quer um olhar seu diferente para ela. Falar um ‘bom dia’, ‘fica com Deus’, ‘Deus te abençoe’, são coisas que, às vezes, suprem essa carência que essa pessoa, que está em situação de rua, necessita”, concluiu Weliton.

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