Morre menina de 6 anos agredida por mãe e madrasta em Porto Real

Publicado por Tv Minas em 24/04/2021 às 16h42

Fonte: O Globo

A criança teria sido torturada com um fio de tv a cabo dobrado, socos e pontapés. Ela também teve omissão de socorro ao longo de quase três dias.

Ketelen Vitória Oliveira da Rocha, a menina de 6 anos que foi agredida e torturada pela mãe e a madrasta em Porto Real, no Sul Fluminense, morreu na madrugada deste sábado.

De acordo com o boletim médico do hospital particular onde estava internada, a criança sofreu uma parada cardiorrespiratória por volta das 3h30 e não resistiu. Ainda segundo o boletim, Ketelin chegou na unidade de saúde, transferida do Hospital Municipal São Francisco de Assis, na última segunda-feira, com quadro de politraumatismo e coma arreflexo, apresentando múltiplas lesões corporais agudas e crônicas. Nas últimas 24 horas, o estado da menina se agravou, com ''deterioração das funções vitais''.

No início da semana, Ketelen foi levada para o Hospital Municipal São Francisco de Assis após ser espancada pela madrasta, Brena Luane Barbosa Nunes, de 25 anos, e a mãe da menina, Gilmara Oliveira de Farias, de 27 anos. Segundo informações, as agressões começaram na sexta-feira (16) e se estenderam até segunda-feira. Elas moravam no bairro de Jardim das Acácias, em Porto Real.

"Ketelen era uma criança boa, respeitadora... Seis aninhos. Uma criança muito amável que me chamava de tia. Ela (Gilmara) só deixava a criança dentro do quarto. Ela e a Ketelen estavam aqui a passeio. Eu falei para ela não trazer porque a Brena não gosta de criança, nunca gostou", conta a mãe de Brena, madrasta de Ketelen, que mora na mesma casa que a filha e presenciou as torturas sofridas pela menina. Segundo ela, os espancamentos começaram na sexta-feira (16) e só acabaram na noite de domingo (18). A mãe de Brena não conseguiu chamar socorro antes por medo da filha, que a ameaçava e a agredia.

Ketelen Vitória Oliveira da Rocha foi agredida e torturada pela mãe e a madrasta.

Segundo ela, Brena sempre teve um comportamento agressivo com namoradas e familiares. Esta, entretanto, é a primeira vez que vê um caso de agressão a uma criança:

"Essa é a primeira vez que ela faz isso (bate em uma criança). Ela sempre teve esse comportamento agressivo. O relacionamento dela com a Gilmara era marcado por brigas. Antes dela, Brena namorou outra mulher, e era assim também.

Uma vizinha de Brena reforça o comportamento violento da mulher, relatando agressões à própria mãe e à avó, de 86 anos.

"A própria mãe dela foi na minha casa duas vezes pedir socorro porque tinha sido agredida pela filha. Brena jogou uma televisão na cabeça da própria mãe. Ela tava em perigo na mão da própria filha, e eu a socorri. Isso aconteceu duas vezes. A mãe chamou a polícia, mas nada aconteceu. Brena bateu até na própria avó, de 86 anos. Elas também são vítimas porque, pelo que eu conheci da Brena, ela era um monstro. Era para estar presa há muito tempo, afirma Roberta Rodrigues de Oliveira, de 46 anos.

A mãe de Brena, porém, afirma que as agressões a Ketelen aconteciam em conjunto, muitas vezes comandadas por Gilmara.

"As duas são culpadas (pela morte). Tanto a mãe quanto a madrasta. Nao estou culpando uma só e deixando a outra livre, não. Gilmara que mandava a Brena bater na menina, ou então as duas batiam , conta a mãe de Brena, contando ainda que a menina era deixada trancada em um quarto sem comer: "A Gilmara deixou a menina sem comer. Eu dava comida para menina escondido. Dava café, fazia pipoca, comprava guaraná"...

Para a mãe de Brena, a filha e a nora devem pagar pelo crime e permanecer atrás das grades:

"Eu não quero vê-las livres. Não criei filha pra matar criança, não! O que minha filha vez não tem justificativa! Eu a eduquei! Elas têm que pagar pelo que fizeram, não podem sair da cadeia. Não quero que saiam".

Assim como a mãe de Brena, os moradores do Jardim das Acácias, em Porto Real, também querem justiça.

"Moro a quatro casas de distância da casa da Brena. Se eu tivesse ouvido ou visto algo, teria denunciado. Teria colocado a cara. Mas eu nunca vi essa criança, ela ficava presa. Ninguém de fora ouviu porque elas fechavam a boca da criança e aumentavam o volume da TV, conta Roberta, completando: "A vizinhança está revoltada. Todo mundo revoltado. Chego até a passar mal de nevorso ao pensar que isso aconteceu com uma criança de seis anos".

Lugar em que menina agredida era mantida.

Na última quarta-feira, a Justiça decretou a prisão preventiva das duas agressoras. Na decisão proferida após a audiência de custódia, o juiz Marco Aurélio da Silva Adania frisa a gravidade das lesões sofridas pela vítima, que é filha e enteada das acusadas.

Ao optar por mantê-las presas, o magistrado também enumerou detalhes da violência contra a menina na casa da família. Segundo a mãe da madrasta, as agressões começaram no fim da noite de sexta-feira e continuaram por pelo menos 48 horas. Foram "socos e chutes por diversas vezes", além de a vítima ter sido "arremessada contra a parede e contra um barranco de 7 metros de altura, e de ser chicoteada com um cabo de TV", sendo submetida a "intenso sofrimento físico e psicológico", conforme afirma o juiz na decisão.

O magistrado ressalta ainda que as duas presas confessaram o crime à 100ª DP (Porto Real), responsável pelas investigações. Também pesou contra as mulheres o fato de que o socorro só foi acionado na manhã de segunda-feira, quando a menina já não apresentava nenhuma reação — "talvez por temerem seu falecimento", diz o juiz.

Por fim, foi destacado o histórico de violência por parte da madrasta, que tem, entre outros crimes, uma passagem na polícia por agredir fisicamente a mãe. "A prisão das flagranteadas merece ser mantida para a conveniência da instrução criminal, diante do fato de que as testemunhas/vítimas, por certo, sentir-se-ão amedrontadas em prestar depoimento estando estas em liberdade", argumenta o magistrado.

Na audiência de custódia, a madrasta da menina informou à Justiça ter sofrido "violência no ato da prisão" — resposta para um questionamento de praxe neste tipo de procedimento. O juiz Marco Aurélio da Silva Adania determinou, então, que cópias dos autos fossem remetidas à Corregedoria Geral da Polícia Militar e à Auditoria Militar, "para apurar eventuais agressões praticadas".

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