Entenda a diferença entre persas, árabes, turcos, curdos, xiitas e sunitas

Publicado por Tv Minas em 17/06/2020 às 21h18

Fonte: O POVO

Nem todo árabe é muçulmano, nem todo muçulmano é árabe. Na verdade, o maior país muçulmano do mundo está no Oceano Pacífico, no sul da Ásia, longe dos territórios árabes.

 

O Oriente Médio é uma vasta região, riquíssima em hidrocarbonetos e bastante diversa. Ao todo, 17 países, entre monarquias, repúblicas, teocracias e territórios autônomos, compõem a região. Ainda assim, é comum, muitas vezes, confundir povos e religiões da área, levando a embaralhar etnias e crenças, línguas e origens. Você sabe a diferença entre persas, árabes, turcos, curdos, xiitas e sunitas?

 

Primeiro, é importante diferenciar grupos étnicos de grupos religiosos. Persas, árabes, turcos e curdos são etnias, ou seja, um grupo que se identifica através de relações de ancestralidade, linguística ou história. Sunismo e xiismo são vertentes da mesma religião, o Islã. Os seguidores do Islã são chamados de muçulmanos.

 

Nem todo árabe é muçulmano, nem todo muçulmano é árabe. Na verdade, o maior país muçulmano do mundo, a Indonésia, está no Oceano Pacífico, no sul da Ásia, longe dos territórios árabes.

 

Os árabes são um grupo étnico surgido na Península Arábica, região onde hoje está a Arábia Saudita, Iêmen e Emirados Árabes Unidos, por exemplo. Maomé, o profeta e fundador do Islamismo, era árabe e a religião nasceu no seio desse povo.

 

O chamado esforço de conversão, que estimulava os fiéis a levarem sua crença a outros povos e territórios, levou à expansão árabe no século VII, fazendo com que esse povo estendesse seus domínios e chegasse ao norte da África, onde, ainda hoje, são maioria étnica. Nesse período das guerras de conversão, os árabes chegaram também a um império local que professava o zoroastrismo - a Pérsia.

 

Os persas são um povo indo-europeu da Ásia Central, um ramo linguístico e étnico que deu origem aos idiomas europeus modernos e ao sânscrito na Índia. Dentro dos indo-europeus existiu o subgrupo conhecido como arianos, que dominaram a região chamada de Pérsia, hoje conhecida como Irã - em tradução literal, a terra dos arianos.

 

Quando os árabes chegaram e derrotaram os persas, obrigaram o país a se submeter ao Islã. Por isso, o Irã, que tem origem em outro grupo étnico originário no centro da Ásia, possui a mesma religião que os árabes, originários da Península Arábica. Enquanto os árabes falam árabe, os iranianos falam farsi.

 

A conversão do Irã ao Islã também serve para explicar outro grupo étnico: os turcos. Esse povo também tem origem na Ásia Central e é um dos mais prolíficos de todo o continente: estão nos Bálcãs, no Cáucaso, na Sibéria, na China, no Oriente Médio (Iraque, Irã, Síria) e, é claro, na Turquia. São identificados como turcomenos, uigures, quirguizes (há, inclusive, o país Quirguistão), tártaros, cazaques (também há o país Cazaquistão), entre outros.

 

Entre os povos túrquicos, um proeminente líder deu origem a uma dinastia islâmica no Iraque, a seljúcida. Do sultanato seljúcida nasceu uma série de outros estados, entre eles, na Anatólia, região central da Turquia, o Sultanato de Osman.

 

Conhecido por vezes como Othman, deu origem ao termo otomano. No século XII, o sultanato otomano conquistou independência e lançou as bases do que viria a ser o Império Turco-Otomano - expandindo a influência dos povos turcos convertidos ao islã por toda a região, até incorporar o Império Bizantino, cuja capital, Constantinopla, marcou o cisma cristão entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa.

 

O megaestado otomano existiu até 1924 e dominava todo o Oriente Médio. Assim, nasce a confusão entre árabes e turcos. Quando um cidadão árabe viajava pelo mundo, utilizava o passaporte turco-otomano, ao qual estavam submetidos. A divisão dos territórios após o fim do Império e o preconceito levam a outro grupo étnico: os curdos.

 

Atualmente, os curdos são a maior nação (isto é, comunidade historicamente relacionada, com laços comuns linguísticos, étnicos) do mundo sem um Estado. O território ocupado por este povo é superior ao do Iraque, contudo, está esfacelado entre várias nações. Estiveram sob o domínio do Império Turco-Otomano, hoje dividem-se sob a autoridade dos governos do Iraque, Síria, Turquia, Irã, Armênia e Azerbeijão.

 

Segundo o Instituto Curdo de Paris, a população curda está entre 36 a 45 milhões. Falam um idioma próprio, têm origem étnica distinta e, em parte, estão mais relacionados aos povos iranianos que aos árabes ou turcos. Ainda assim, a maior parte dos curdos é muçulmana. Há também importantes minorias dentro dos curdos, como os yazidis, que professam iazidismo, e foram as principais vítimas do grupo terrorista Estado Islâmico no Iraque.

 

As pretensões curdas de formar um Estado independente são motivo constante de tensão entre os países da região: em 2017, o Iraque mandou tropas para a região autônoma chamada Curdistão iraquiano para evitar as pretensões independentistas; e na Turquia, o chamado Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) é considerado terrorista.

 

 

Xiitas x Sunitas

 

O Islã possui cerca de 1,8 bilhão de seguidores no mundo. É a religião predominante no Norte da África, no Oriente Médio, em regiões do Cáucaso, dos Bálcãs e em alguns países do Sul da Ásia, como Indonésia e Malásia. A fé está segmentada em dois grandes ramos: o sunismo e o xiismo.

 

Cerca de 85% dos muçulmanos são sunitas. No Oriente Médio, são o grupo dominante em vários países - o que ajuda a entender a tensão sectária em várias nações e até entre Estados. É o caso do Irã e a Arábia Saudita. Os dois países travam uma disputa de influência regional, em que os iranianos, o maior país xiita do mundo, procura expandir sua atuação; e a Arábia Saudita, de maioria sunita, estabelecer-se como líder dos povos muçulmanos.

 

As diferenças entre os ramos do Islã nasceram após a morte do profeta Maomé. A linha sucessória não estava clara e houve divisão sobre quem assumiria este papel de líder religioso e político - chamado califa. Para os xiitas, o papel de sucessor caberia a Ali, primo e genro de Maomé, e seus descendentes, constituindo uma espécie de dinastia. Para os sunitas, o sucessor pode ser qualquer um, desde que aceito pela comunidade e abençoado por Alá.

 

Ainda na expansão árabe-muçulmana do século VII, o filho de Ali, Hussein - apoiado pelos xiitas -, entrou em disputa pelo papel de califa após o terceiro califa sunita ser assassinado. A batalha aconteceu no território que hoje corresponde ao Iraque, na cidade de Kerbala. Os xiitas foram derrotados e Hussein, morto. A morte de Hussein constitui uma das datas mais importantes do calendário xiita, a “Ashura”, e a cidade de Kerbala um dos lugares mais sagrados do xiismo. Atualmente, apenas Irã, Iraque, Bahrein e Azerbaijão têm maioria xiita.

 

A separação explica, em parte, a constante tensão e conflagração entre grupos locais. Na Síria, o ditador Bashar Al-Assad é alauíta (uma derivação minoritária do xiismo), e chegou a enfrentar rebeldes sunitas na Guerra Civil que assola o país. No Iêmen, os xiitas derrubaram o governo sunita e o país está em conflito desde então. No Líbano, a divisão política-religiosa determina que o presidente do país seja cristão; o primeiro-ministro, sunita; o presidente do Parlamento, xiita.

 

Tanto para o sunismo quanto o xiismo, as cidades de Meca, Medina e Jerusalém são consideradas sagradas. As duas primeiras estão no território da Arábia Saudita, enquanto Jerusalém foi incorporada por Israel - a cidade também é sagrada para o judaísmo e o cristianismo. Meca faz parte de um dos cinco pilares fundamentais do Islã - segundo o profeta Maomé, todo muçulmano saudável e com condições financeiras deve visitar a cidade pelo menos uma vez. Esta viagem ao local sagrado é chamada Hajj.

 

Medina guarda os restos mortais de Maomé e foi refúgio do profeta quando este foi perseguido. Dali, mobilizou o exército de conversão que daria início à expansão da fé. Jerusalém consta como a cidade para a qual Maomé teria sido transportado pelo arcanjo Gabriel durante o período de revelações que daria origem ao livro sagrado do Islã, o Corão.

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