Ataque a faca deixa 3 mortos em Nice, na França; 1 vítima foi decapitada

Publicado por Tv Minas em 29/10/2020 às 15h56

Fonte: G1

Outros dois incidentes foram registrados: um no sul do país e outro em um consulado francês na Arábia Saudita.

 

Um ataque a faca deixou três mortos e vários feridos na manhã desta quinta-feira (29) na Basílica de Notre-Dame, em Nice, no sul da França.

 

O prefeito da cidade, Christian Estrosi, afirmou que um suspeito foi baleado e preso. Ele classificou o ataque como terrorismo islâmico porque o homem teria gritado "Allahu Akbar" (Deus é grande) durante a abordagem policial.

 

Segundo a imprensa local, uma das vítimas foi decapitada e o suspeito está internado em estado grave.

 

Após o ataque em Nice, o primeiro-ministro francês, Jean Castex, elevou o alerta de segurança do país ao nível máximo e disse que a resposta do governo será firme e implacável.

 

 

Onda de ataques

 

Poucas horas depois, a polícia francesa matou um homem que ameaçou pessoas com uma arma em Montfavet, perto da cidade de Avignon, também no sul do país. Segundo uma rádio local, ele teria gritado "Allahu Akbar", antes de ser alvejado.

 

Na Arábia Saudita, a televisão estatal noticiou que um suspeito foi preso na cidade de Jeddah após atacar e ferir um agente de segurança do consulado francês.

 

A embaixada francesa no país disse que o consulado foi alvo de um "ataque a faca contra um guarda" e informou que o funcionário foi levado ao hospital e não corre perigo de vida.

 

A França tem sofrido uma onda de ataques desde a morte de Samuel Paty, professor que mostrou uma charge de Maomé em uma aula sobre liberdade de expressão.

 

Após o incidente em Nice, a Assembleia Nacional da França interrompeu uma sessão que discutia medidas para combater a Covid-19 e fez um minuto de silêncio pelas vítimas.

 

O prefeito de Nice afirmou que "é hora de a França se exonerar das leis da paz para erradicar definitivamente o islamo-fascismo de nosso território".


A Procuradoria antiterrorismo do país abriu uma investigação sobre o incidente, que ocorreu por volta das 9 horas (6 horas no horário de Brasília).

 

O ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, anunciou uma reunião do gabinete de crise com a presença do presidente Emmanuel Macron, que depois deve embarcar para Nice.

 

O ataque desta quinta ocorre 13 dias após a decapitação de Samuel Paty, mas ainda não está claro se há conexão entre ambos.

 

A charge mostrada por Paty era da revista satírica "Charlie Hebdo", que também foi alvo de um atentado terrorista em 2015. Por questões de segurança, a redação do semanário mudou para um local não informado após o atentado.

 

Em setembro de 2020, um outro atentado terrorista deixou duas pessoas gravemente feridas perto do local onde funcionava a antiga redação do "Charlie Hebdo". O ataque ocorreu ao mesmo tempo em que acontecia o julgamento de 14 acusados de cumplicidade pelo atentado de 2015.

 

Caricaturas do profeta Maomé são considerados blasfêmia pelos muçulmanos.


A morte de Paty causou comoção em toda a França. Milhares saíram às ruas em Paris para homenagear o professor que recebeu a maior honraria do governo francês, a medalha da "Legion d'Honneur". No funeral, Macron afirmou "não renunciaremos às caricaturas".


"Nós continuaremos, professor. Nós defenderemos a liberdade que você ensinava tão bem e nós levaremos a laicidade. Nós não renunciaremos às caricaturas e aos desenhos", afirmou Macron.

 

 

Reação muçulmana


A dura resposta da França, no entanto, levou a reações contrárias em diversos países de maioria muçulmana.

 

No fim de semana, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, criticou duramente Macron e afirmou que o líder francês precisava de um exame de saúde mental. Em retaliação, a França convocou seu embaixador em Ancara.

 

Na segunda-feira (26), o presidente turco pediu um boicote aos produtos franceses. Macron rebateu dizendo que redobraria os esforços para impedir que as crenças islâmicas conservadoras subvertessem os valores franceses.

 

Na quarta-feira (28), Erdogan afirmou que os países ocidentais que atacam o islamismo querem "relançar as cruzadas". Ele disse também que defender a figura de Maomé era "uma questão de honra para nós".

 

O presidente do Egito, Abdel-Fattah al-Sisi, afirmou que a liberdade de expressão deveria parar de ofender mais de 1,5 bilhão de pessoas, mas ressaltou que rejeitava qualquer forma de violência ou terrorismo, de qualquer pessoa, em nome da defesa da religião, de símbolos religiosos ou de ícones.

 

Diversos países têm registrado protestos contra a França. Bangladesh teve três dias seguidos de manifestações e, ontem, um boneco representando Macron foi incendiado. Na Somália, crianças e mulheres foram às ruas

 

 

Defesa à França


Em meio à escalada de tensão, o chanceler do Reino Unido, Dominic Raab, pediu aos aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que se posicionem do lado dos valores da tolerância e da liberdade de expressão.

 

A declaração foi uma repreensão velada à Turquia, que é membro da organização. "O Reino Unido se solidariza com a França e o povo francês após o terrível assassinato de Samuel Paty", disse Raab em um comunicado. “O terrorismo nunca pode e nunca deve ser justificado."

 

"Os aliados da Otan e a comunidade internacional em geral devem estar lado a lado com os valores fundamentais da tolerância e da liberdade de expressão, e nunca devemos dar de presente aos terroristas a nossa divisão", afirmou Raab.

 

Nesta quinta-feira (29), o presidente do Parlamento europeu, David Sassoli, disse estar "profundamente comovido" com o ataque em Nice, afirmou que "a dor é sentida por todos na Europa" e pediu unidade "contra a violência e quem incita e propaga o ódio".

 

 

'Respeito mútuo'


Já o Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações, o espanhol Miguel Ángel Moratinos, fez um apelo na quarta-feira (28) "respeito mútuo por todas as religiões e crenças".


Em comunicado, a agência da ONU disse que Moratinos "acompanha com grande preocupação as crescentes tensões e casos de intolerância desencadeados pela publicação de caricaturas satíricas do profeta Maomé, que os muçulmanos consideram um insulto e profundamente ofensivo".

 

"Insultar religiões e símbolos religiosos sagrados provocam ódio e extremismo violento, levando à polarização e fragmentação da sociedade", afirmou Moratinos, que já foi ministro de Relações Exteriores da Espanha.

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